Carlos Guimarães: Trovas Etc
Canto, feliz, para quem
é meu Sol de Primavera
e, em suas mãos, hoje, tem
CANTIGAS QUE ALGUÉM ESPERA.
1 - Trovas
Ponho nas trovas amigas
um pouco do meu viver,
por isso, chamo-as CANTIGAS,
CANTIGAS DE BEM-QUERER.
&
À minha trova imperfeita
somente um destino almejo:
- pra tua boca ser feita,
como foi feito o meu beijo.
&
A tua mão carinhosa,
quando me vem afagar,
lembra a ternura da rosa
desabrochando ao luar...
&
Ai amor, que me fugiste
e deixaste tantas mágoas!
Sou, hoje, um salgueiro triste
chorando à beira das águas...
&
As coisas simples, pequenas,
bem pode o Amor transformar:
- eu dei-te uma casa, apenas,
dela, tu fizeste um Lar!
&
Ao desespero me entrego...
Choro tanto, tanto, tanto,
que receio ficar cego:
- olhos desfeitos em pranto...
&
A mais triste das notícias
tu me dás com tanta graça,
por entre tantas carícias,
que a tristeza vem ...e passa.
&
A ternura do meu beijo,
em vão, ocultar procura,
este meu louco desejo
de beijar-te sem ternura.
&
A tua mão, que transforma
pesares meus em ventura,
é uma flor de estranha forma,
toda feita de ternura.
&
A Estrela D'alva perdida
no céu, em plena alvorada,
é uma lágrima vertida
dos olhos da madrugada.
&
As roseiras tão vaidosas,
quando me vens visitar,
deitam pétalas de rosas
nas pedras que vais pisar.
&
A prece que tu fizeste,
mão unida à minha mão,
se não foi ao Pai Celeste,
entrou no meu coração.
&
As velas pandas ao vento...
Doidas gaivotas pelo ar...
Você no meu pensamento...
E, entre nós dois, esse Mar...
&
A tua boca perfeita,
que tem do pecado a cor,
parece, amor, que foi feita
para os meus lábios de amor...
&
Beijo teu beijo na rede,
com repassada ternura,
como quem sacia a sede
numa fonte de água pura.
&
Contra a tua ingratidão,
transbordando indiferença,
meu remédio é a solidão,
meu refúgio é minha crença.
&
Cantando canções antigas,
a serenata me encanta
porque repete as cantigas,
que a minha saudade canta...
&
Chora, amor, que o pranto encerra
lenitivo à alma ferida:
depois da chuva é que a terra
se apresenta mais florida...
&
Deus que te deu tanta graça,
que te fez linda e faceira,
espero, amor, que te faça
minha eterna companheira.
&
Devo tudo quanto sou
e a Vida me concedeu,
à mãe que Deus me levou
e à mulher que Ele me deu.
&
Desfaz-se a flor, mas, no galho,
deixa em pétala singela,
uma lágrima de orvalho,
que a noite chorou por ela.
&
Deixei-te, amor, e não sei
como aquilo aconteceu,
pois nunca mais encontrei
outro beijo igual ao teu...
&
Devo a essa boca vermelha
ser o escravo que, hoje, sou:
foi o teu beijo a centelha,
que o meu peito incendiou!
&
Eu sou feliz - bem ou mal -
crendo nas tuas promessas,
porque a Esperança, afinal,
é uma Saudade às avessas.
&
Ela se vai... Eu aceito
o adeus com tranquilidade
e o céu da distância enfeito
com estrelas de saudade...
&
Eu tenho quatro vizinhas,
- que santas meninas são! -
à sua porta, às tardinhas,
há homens em procissão...
&
... *
Alguma Fortuna Crítica
1
"acabei de ler tuas CANTIGAS. Primeiro, re-agradeço a gentileza da oferta. Segundo, alegrei-me, também, pelo reencontro. Por último, me regalei com tanta trova boa.
João Felício dos Santos
Rio de Janeiro - RJ/Junho de 1978"
2
"Suas trovas, carregadas de imagens simples e profundas, perpetuam, na mente dos leitores, os "cromos eternos" de cultura e lazer. É uma lição para todos nós.
Nilton Manoel
Diário da Manhã - Ribeirão Preto - SP/outubro de 1978"
3
"(...)O livro, como não poderia deixar de ser, está ótimo. Franciscaníssimo! - nome do autor em minúsculas, sem prefácio, dispensando tudo o que de verdade poderia ser dito e deixando que a qualidade falasse por si mesma(...)
Carolina Ramos - SP
"
um pouco do meu viver,
por isso, chamo-as CANTIGAS,
CANTIGAS DE BEM-QUERER.
&
À minha trova imperfeita
somente um destino almejo:
- pra tua boca ser feita,
como foi feito o meu beijo.
&
A tua mão carinhosa,
quando me vem afagar,
lembra a ternura da rosa
desabrochando ao luar...
&
Ai amor, que me fugiste
e deixaste tantas mágoas!
Sou, hoje, um salgueiro triste
chorando à beira das águas...
&
As coisas simples, pequenas,
bem pode o Amor transformar:
- eu dei-te uma casa, apenas,
dela, tu fizeste um Lar!
&
Ao desespero me entrego...
Choro tanto, tanto, tanto,
que receio ficar cego:
- olhos desfeitos em pranto...
&
A mais triste das notícias
tu me dás com tanta graça,
por entre tantas carícias,
que a tristeza vem ...e passa.
&
A ternura do meu beijo,
em vão, ocultar procura,
este meu louco desejo
de beijar-te sem ternura.
&
A tua mão, que transforma
pesares meus em ventura,
é uma flor de estranha forma,
toda feita de ternura.
&
A Estrela D'alva perdida
no céu, em plena alvorada,
é uma lágrima vertida
dos olhos da madrugada.
&
As roseiras tão vaidosas,
quando me vens visitar,
deitam pétalas de rosas
nas pedras que vais pisar.
&
A prece que tu fizeste,
mão unida à minha mão,
se não foi ao Pai Celeste,
entrou no meu coração.
&
As velas pandas ao vento...
Doidas gaivotas pelo ar...
Você no meu pensamento...
E, entre nós dois, esse Mar...
&
A tua boca perfeita,
que tem do pecado a cor,
parece, amor, que foi feita
para os meus lábios de amor...
&
Beijo teu beijo na rede,
com repassada ternura,
como quem sacia a sede
numa fonte de água pura.
&
Contra a tua ingratidão,
transbordando indiferença,
meu remédio é a solidão,
meu refúgio é minha crença.
&
Cantando canções antigas,
a serenata me encanta
porque repete as cantigas,
que a minha saudade canta...
&
Chora, amor, que o pranto encerra
lenitivo à alma ferida:
depois da chuva é que a terra
se apresenta mais florida...
&
Deus que te deu tanta graça,
que te fez linda e faceira,
espero, amor, que te faça
minha eterna companheira.
&
Devo tudo quanto sou
e a Vida me concedeu,
à mãe que Deus me levou
e à mulher que Ele me deu.
&
Desfaz-se a flor, mas, no galho,
deixa em pétala singela,
uma lágrima de orvalho,
que a noite chorou por ela.
&
Deixei-te, amor, e não sei
como aquilo aconteceu,
pois nunca mais encontrei
outro beijo igual ao teu...
&
Devo a essa boca vermelha
ser o escravo que, hoje, sou:
foi o teu beijo a centelha,
que o meu peito incendiou!
&
Eu sou feliz - bem ou mal -
crendo nas tuas promessas,
porque a Esperança, afinal,
é uma Saudade às avessas.
&
Ela se vai... Eu aceito
o adeus com tranquilidade
e o céu da distância enfeito
com estrelas de saudade...
&
Eu tenho quatro vizinhas,
- que santas meninas são! -
à sua porta, às tardinhas,
há homens em procissão...
&
... *
Alguma Fortuna Crítica
1
"acabei de ler tuas CANTIGAS. Primeiro, re-agradeço a gentileza da oferta. Segundo, alegrei-me, também, pelo reencontro. Por último, me regalei com tanta trova boa.
João Felício dos Santos
Rio de Janeiro - RJ/Junho de 1978"
2
"Suas trovas, carregadas de imagens simples e profundas, perpetuam, na mente dos leitores, os "cromos eternos" de cultura e lazer. É uma lição para todos nós.
Nilton Manoel
Diário da Manhã - Ribeirão Preto - SP/outubro de 1978"
3
"(...)O livro, como não poderia deixar de ser, está ótimo. Franciscaníssimo! - nome do autor em minúsculas, sem prefácio, dispensando tudo o que de verdade poderia ser dito e deixando que a qualidade falasse por si mesma(...)
Carolina Ramos - SP
"
2 - Poemas
2.1 Poemas
Maria Fumaça
-soneto-
Ei-la resfolegante... A serra vai subindo...
E silva, e geme, e range, e, cansada, estertora...
Parece vai parar... Mas, logo, sem demora,
num esforço final, vai seu rumo seguindo...
Transpirando vapor, chega à planície e, agora,
vai, pachorrentamente, os trilhos deglutindo...
Lança chispas de fogo, e as chispas vão caindo,
num chuveiro de luz, pelo caminho a fora...
E, sozinha, transporta a Maria Fumaça,
nos vagões entulhados e cheios de gente,
do progresso a semente, aos confins do país...
E esse monstro de ferro, a silvar quando passa,
parece que tem vida e um coração fremente,
que vibra emocionado e palpita feliz!...
...
Maria Fumaça
-soneto-
Ei-la resfolegante... A serra vai subindo...
E silva, e geme, e range, e, cansada, estertora...
Parece vai parar... Mas, logo, sem demora,
num esforço final, vai seu rumo seguindo...
Transpirando vapor, chega à planície e, agora,
vai, pachorrentamente, os trilhos deglutindo...
Lança chispas de fogo, e as chispas vão caindo,
num chuveiro de luz, pelo caminho a fora...
E, sozinha, transporta a Maria Fumaça,
nos vagões entulhados e cheios de gente,
do progresso a semente, aos confins do país...
E esse monstro de ferro, a silvar quando passa,
parece que tem vida e um coração fremente,
que vibra emocionado e palpita feliz!...
...
3 - Resumo Biográfico
Carlos Guimarães é o nome literário de Carlos da Silva Guimarães Júnior, nascido na cidade do Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1915, sendo o primogênito do casal Ermelinda Conceição Guimarães e Carlos da Silva Guimarães.
Casou-se, em 1938, com Nilza Bruno Guimarães. Da união, nasceram três filhas.
Da esquerda para a direita:
Carli, desconhecido, Narli, Carlos e Nilci.
Da esquerda para a direita:
Carli, desconhecido, Narli, Carlos e Nilci.
Adilson Rainha,
co-elaborador do livro Rumos diVERSOS, em companhia da esposa Narli, única filha viva de Carlos Guimarães.*
Vida Profissional
CARLOS GUIMARÃES
é Engenheiro Arquiteto formado no ano de 1945 pela Faculdade Nacional de Arquitetura, da Universidade do Brasil.
Exerceu suas atividades profissionais na Estrada de Ferro Central do Brasil - EFCB, da Rede Ferroviária Federal S.A., admitido que foi como aprendiz-aluno da Escola Profissional Silva Freire. Foi, mais tarde, Professor de matemática e desenho daquela Escola, Colégio Ateneu Brasileiro e Colégio Piedade, entre outros, chegando à função de Assistente do Departamento de Ensino e Seleção da EFCB.
Classificado como Engenheiro, em 1957, exerceu outras funções de chefia, tais como: Assistente dos Departamentos de Patrimônio e de Pessoal. Ocupou a chefia do Departamento de Assistência ao Ferroviário e foi Assessor da Sub-Chefia Divisional de Operações, da mesma Estrada de Ferro.
Aposentou-se em 1980, após quarenta e oito anos de serviços prestados à EFCB.
Nas palavras de João Freire,
"Carlos Guimarães foi exemplo no trato das coisas da UBT. Organizado, tranquilo, principalmente quando não aceitava as provocações que lhe chegavam via postal. Jamais foi omisso quando não tomava decisões drásticas que lhe exigiam e poderiam vir a prejudicar o Movimento Trovadoresco...
Vitorioso em poesia, pela sensibilidade que sabe colocar em sonetos, poemas e elegias, Carlos Guimarães verseja com preciosa atividade criadora qualquer que seja a medida dos seus versos, a raridade de suas rimas, a pureza de seus temas e pela liderança, pois é um dos criadores de nova corrente literária - a Trova - e ainda pela constante atividade em sua implantação no Brasil, teve também vitoriosa e consagradora carreira de trovador."
Luiz Otávio dirige a UBT até 1969, quando passa o bastão a Carlos Guimarães. Mas dado o agravamento de sua saúde, vem a falecer em 1977. Carlos Guimarães segue na direção da UBT, cargo que exerceu até 1997, quando Deus o recolheu. Segundo o site Falando em Trovas, foi Magnifico Trovador com todos os méritos.
"... desde cedo, se dedicou às letras. Ainda garoto remetia suas composições e alinhavos de poesia para o Jornal do Brasil, onde eram publicados. Também teve muitos de seus trabalhos divulgados no jornal O Atalaia - órgão literário dos alunos da Escola Silva Freire. Mas, foi a partir de 1963 que iniciou o envio de suas composições - trovas, poesia, contos, ensaios - para Concursos Literários, no Brasil, em Portugal e na então África Portuguesa."
Foi... "reeleito, por vários biênios consecutivos, Presidente Nacional e Presidente da Seção Municipal do Rio de Janeiro da União Brasileira de Trovadores - UBT, organismo que, no Brasil, reúne a quase totalidade dos poetas cultivadores da Trova.
Possui o título de Magnifico Trovador que lhe foi outorgado, por duas vezes, por ter se classificado entre os primeiros colocados nos Jogos Florais de Nova Friburgo, durante três anos consecutivos, primeiramente, nos gêneros lírico e filosófico e, posteriormente, no gênero humorístico.
Devido às suas frequentes premiações nos concursos literários promovidos pela cidade de Valença, durante as Festas da Inteligência, foi eleito, por unanimidade, Acadêmico da Academia Valenciana de Letras.
Graças à difícil arte de versejar, Carlos Guimarães possui centenas de troféus,medalhas, placas e diplomas.
Sua estante abriga prêmios obtidos em diversas cidades brasileiras: Santos, Valença, Niterói, Nova Friburgo, Resende, Divinópolis, Itaguaí, Campos, Maringá, Varginha, Mariana, Pouso Alegre, Petrópolis, Rio Novo, Belém, Belo Horizonte, Taubaté, São Lourenço, Natal, Uberlândia, Recife, São Luis, Magé, Itaboraí, São Bernardo do Campo, Campinas, Porto Alegre, Corumbá, Rio de Janeiro, São Pedro da Aldeia, Cachoeiras de Macacu, Curitiba, Macaé, Mendes etc.
Obteve classificações bastante significativas fora do Brasil: Setúbal, Lisboa, Barreiros, Lobito, Nova Lisboa, Moçâmedes, Ganda, Benguela.
Editou, em 1978, o livro "Cantigas Que Alguém Espera", contendo 303 trovas, grupadas em líricas, filosóficas e humorísticas. Possui, ainda inéditos, outros livros.
Agora, Carlos Guimarães traz à luz seu livro de poesias "Rumos diVERSOS", volume que enfeixa algumas das obras que foi compondo ao longo de sua vida.
{/{
Segundo sua filha Narli Guimaraes-RJ
sobre erros no livro A Trova - Raízes e Florescimento-UBT:
Minhas irmãs desencarnadas eram Carli e Nilci.
Meu pai desencarnou em 1997 e não em 96.
São os únicos erros. Meu pai era isso mesmo, um contemporizador, ninguém conseguia brigar com ele. Apenas um... que era um provocador contumaz e um crítico severo de diversos trovadores.
Escreveu muitas cartas ofensivas, sem nenhum motivo, para vários, inclusive para o meu pai, que, como ele se definia era "algodão entre cristais". Vivia conciliando os brigões.
Meu pai desencarnou em 1997 e não em 96.
São os únicos erros. Meu pai era isso mesmo, um contemporizador, ninguém conseguia brigar com ele. Apenas um... que era um provocador contumaz e um crítico severo de diversos trovadores.
Escreveu muitas cartas ofensivas, sem nenhum motivo, para vários, inclusive para o meu pai, que, como ele se definia era "algodão entre cristais". Vivia conciliando os brigões.
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Bibliografia
Associação de Engenheiros da EFCB. Revista da Associação de Engenheiros da EFCB. Rio de Janeiro, Ano XV, nº116, Março/Abril 1972, pág 2;
Câmara Municipal de Ganda. Boletim. Cidade de Mariano Machado, Ano VII, nº7, junho 1974, pág 61;
Cantigas Que Alguém Espera. Edição Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1978;
Rumos diVERSOS. Edição Cia Brasileira de Artes Gráficas, Rio de Janeiro 1993
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Bibliografia
Associação de Engenheiros da EFCB. Revista da Associação de Engenheiros da EFCB. Rio de Janeiro, Ano XV, nº116, Março/Abril 1972, pág 2;
Câmara Municipal de Ganda. Boletim. Cidade de Mariano Machado, Ano VII, nº7, junho 1974, pág 61;
Cantigas Que Alguém Espera. Edição Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1978;
Rumos diVERSOS. Edição Cia Brasileira de Artes Gráficas, Rio de Janeiro 1993
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Parabéns, Cabral. Fez um belíssimo trabalho, retratando fielmente um resumo de vida de meu pai. Pra mim, foi emocionante vivenciar lembranças que tinham ficado no passado. Obrigada, companheiro.
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